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Guia para iniciantes: Como comprar a primeira guitarra
Publicado há
9 meses-
Por
Joel CostaCom o advento da internet, as lojas de instrumentos lançam ofertas imperdíveis com simpáticas reduções de preços naqueles modelos que passamos longos períodos de tempo a namorar, assim como os típicos bundles que nos oferecem a oportunidade de comprar uma guitarra com todos os acessórios de que viermos a precisar já incluídos. A quantidade de oferta disponível torna-se ainda mais apelativa para iniciantes, que prestes a darem o seu primeiro passo no mundo das guitarras enfrentam desde logo o primeiro grande desafio de um longo processo de aprendizagem. Este é um cenário que se pode revelar um autêntico campo minado, dada a possibilidade de cairmos no erro de efectuar uma compra impulsiva da qual nos poderemos arrepender. É por esta razão que a Guitarrista procurou elaborar uma lista de dicas para simplificar o processo de escolha, começando desde logo por determinar que tipo de características queremos encontrar numa boa guitarra para iniciantes.
O preço é, seguramente, um dos factores determinantes nesta primeira aventura, embora seja necessário distinguir as diferenças entre preço e valor, uma vez que existem modelos capazes de oferecer características encontradas em unidades premium apenas por mais umas dezenas de euros em relação a um modelo um pouco mais económico e despido de potencial. Geralmente, as melhores guitarras para iniciantes são encontradas nos catálogos dos maiores fabricantes, que são também os que mais confiança transmitem. Isto acontece porque as marcas têm capacidade de economizar em grande escala e produzir instrumentos de qualidade e com timbres incríveis, o que nos leva ao ponto seguinte: saber como queres soar.
Quer procures reproduzir a sonoridade de alguém ou encontrar uma solução versátil para cobrir o máximo possível de terreno sonoro, é importante saber que tipo de sonoridade pretendes fabricar com a tua guitarra. Como tal, é ao comprar online que encontramos a primeira desvantagem, uma vez que não temos a possibilidade de testar o modelo não só para analisar o timbre mas também para testar a nossa reacção às madeiras e ao peso do instrumento.
De volta às marcas, por mais tentador que seja aterrar nos territórios da Fender ou da Gibson, a verdade é que os preços praticados pelas marcas norte-americanas podem ser um obstáculo para a maioria dos aprendizes. Felizmente, tanto a Fender como a Gibson reconhecem valor nos guitarristas iniciantes e contam com as suas próprias marcas de regime económico, sendo possível apresentar versões de baixo custo e de qualidade assegurada, como é o caso da Squier e da Epiphone, respectivamente. Do outro lado do Pacífico, a Yamaha surge com um histórico rico na produção de guitarras para iniciantes e guitarristas intermédios, como é o caso do modelo Pacifica, que no mundo inteiro reúne já um número considerável de guitarristas que confiaram à marca a sua primeira experiência eléctrica. Para quem procura formatos fora do regime trivial, a Gretsch poderá também ser uma boa aposta, uma vez que nos últimos anos procurou ampliar a sua linha de produtos para melhor servir guitarristas menos experientes.
Outras marcas menos conhecidas poderão também apresentar-se como uma solução viável para um primeiro contacto com a guitarra eléctrica, e embora estes nomes com um menor grau de reconhecimento possam fazer soar alarmes dentro das nossas cabeças, a verdade é que em anos recentes fomos agraciados com melhores parâmetros na área do controlo de qualidade, factor ao qual se junta a feroz competição no mercado que obriga o mais pequeno dos fabricantes a apresentar propostas que cumpram com as expectativas. Ainda assim, este é um processo que faz soar outro tipo de alarmes e aos quais devemos prestar atenção, como é o caso de sentirmos que o instrumento que temos nas mãos não é para nós e que falhará em proporcionar uma experiência divertida e viciante, por mais tentador que seja o preço ou por mais pressão que se sinta por parte de quem quer que seja que vá pagar o instrumento.
Já mencionados no artigo, os extras poderão ser um factor decisivo na hora de escolher uma guitarra, com muitas lojas a venderem o mesmo produto mas com um diferente número de acessórios adicionais como cordas, tripés, palhetas, sacos, afinadores ou correias. É de extrema importância garantir que as expectativas em relação ao instrumento em si não saiam defraudadas, dado que ao longo do caminho dar-se-á a oportunidade de adquirir todos estes acessórios por valores relativamente baixos.
E se um instrumento que parecia certo é na realidade o instrumento errado? Seja porque não se parece nada com o que viste na imagem ou porque não é confortável de se tocar, a maioria das lojas dispõe de normas claras em relação à devolução de compras, e desde que te assegures do cumprimento destas regras (como não exceder o período de tempo disponível para trocas ou devoluções, por exemplo) não terás qualquer problema em corrigir o erro e dar as boas-vindas ao instrumento certo.
Formato
Existem vários aspectos a ter em consideração na hora de escolher uma guitarra eléctrica e o formato é apenas um entre muitos. Com uma vasta selecção de estilos de corpo de guitarra disponíveis, devemos primeiramente escolher um com o qual nos sintamos confortáveis. As formas da Stratocaster e da Les Paul são as mais conhecidas dentro do espectro da guitarra eléctrica, com muitas versões para iniciantes fabricadas por outras marcas a adoptar as linhas gerais de ambos os formatos para depois lhes conferir o seu toque pessoal. Uma das principais diferenças no design destes dois modelos assenta na presença do cutaway, com o corpo mais fino da Stratocaster a surgir com dois e o corpo mais espesso da Les Paul a apresentar apenas um. No final de contas, é tudo uma questão de conforto e de gosto pessoal.
Pickups
Indiscutivelmente a parte mais importante do som de uma guitarra eléctrica, os pickups são essencialmente ímanes envoltos de fios capazes de converter a vibração causada pelo movimento das cordas em sinais eléctricos, posteriormente enviados para o amplificador. Existem diferentes tipos de pickups com um leque variado de funcionalidades, mas os mais populares são os single-coils (como podemos encontrar nos modelos Stratocaster ou Telecaster) e os humbuckers (geralmente encontrados nos modelos Les Paul). Os single-coils produzem uma sonoridade mais magra e brilhante, e exigem menos quanto à qualidade do sinal, pelo menos em comparação aos humbuckers. Isto faz com que os single-coils sejam o ideal para tonalidades limpas. Já os humbuckers são mais quentes e espessos por natureza, e embora soem muito bem em modo limpo, o facto da saída conter maiores níveis de volume faz com que se ouça alguma distorção. É por esta razão que os humbuckers são a escolha preferida das bandas de rock e metal. Claro que tudo isto não passa de uma série de linhas gerais que ajudam a entender melhor as diferenças entre um equipamento e outro, pois no fim de contas, por mais atenção que tenhamos a todos estes detalhes, tudo se resume à forma como cada um de nós toca.
Hardware
O hardware reúne componentes como a ponte, os saddles, os afinadores e o output. Ao investir em hardware mais resistente e de melhor qualidade, o instrumento irá requerer menos manutenção, mantendo também a afinação mais estável. O hardware pode inclusivamente ajudar com o sustain, transformando de forma positiva a sonoridade da guitarra. O tremolo, por exemplo, pode surgir em várias formas, com a escolha final a depender das necessidades de cada guitarrista. Existem modelos da Jackson, por exemplo, em que com um orçamento ligeiramente superior, possibilitam a integração de um Floyd Rose ao invés de dependerem inteiramente da clássica configuração Tune-O-Matic.
Madeiras
As madeiras usadas na construção de guitarras eléctricas variam de modelo para modelo, com cada material a oferecer propriedades acústicas únicas. Algumas madeiras são utilizadas apenas para redução de custos do produto final, enquanto que alguns modelos de guitarra se servem de madeiras mais pesadas como mogno para atingir outros fins relacionados com o timbre. A influência que cada madeira tem na sonoridade de uma guitarra continua a ser um tema controverso e em constante debate mas não há dúvidas quanto ao impacto que tem no peso do instrumento.
Amplificador
Para além de uma guitarra, precisarás igualmente de um bom amplificador. Considera o catálogo de marcas como a Line 6, Boss, Fender e Blackstar.
Editor da revista Guitarrista, da página Custom Guitar Makers, autor do livro "Kurt Cobain: A História Contada Em Guitarras" e ex-editor da Metal Hammer Portugal. Apaixonado por guitarras e com vasta experiência no mundo da música e relações públicas, tem dedicado a sua carreira a explorar e partilhar histórias e conhecimentos sobre este incrível instrumento.