Clínica da Guitarra e a fantástica recuperação de um Fender Tele Bass de 1974

Recentemente, deu entrada na Clínica da Guitarra um Fender Tele Bass de 1974. A Guitarrista falou com o luthier João Oliveira para conhecer melhor o processo pelo qual este baixo com quase meio século de existência passou para receber um belíssimo acabamento com heavy relic, e como se consegue preservar o timbre tão característico que lhe é conhecido.

«Este Fender Tele Bass, da década de 1970, deu entrada com um acabamento moderno, de cor opaca, numa tonalidade algures entre vintage white e light grey», começa o luthier por dizer. «Teria sofrido algumas transformações durante a sua vida, desde a instalação de um humbucker até diversas mudanças de cor. Não escapou em nada à tendência da época dos upgrades desenfreados e pouco calculados.» Apesar disso, o seu único proprietário até à data decidiu que o baixo deveria de ser restaurado para a sua cor original, sugerindo ainda a aplicação de um relic para simular visualmente a sua idade, e com isso veio um grande desafio, como nos explica João Oliveira: «O maior desafio foi remover as sete camadas de cores diferentes anteriormente aplicadas sem deformar nenhuma das linhas originais, contornos e características chave.»

Com corpo no ameaçado swamp ash, quisemos saber a opinião de João Oliveira quanto à interferência que um acabamento pode ter na madeira, um debate há muito começado e popularizado pelos Beatles na sua demanda pelo timbre perfeito. «Há quem defenda que o tipo de acabamento tem um impacto tremendo no som do instrumento, neste caso, o som que o swamp ash nos pode dar. Nós acreditamos que, se esse factor tiver alguma presença no som do instrumento, será algo tão ténue que o nosso ouvido não reconhece. Aquele mito de remover o acabamento de uma guitarra eléctrica e ela ficar a soar melhor, é isso mesmo… Um mito. E não somos nós que afirmamos, isso está provado.»

Originalmente lançado em 1968, o Telecaster Bass foi o primeiro instrumento da Fender a receber uma reedição e ganhou vida após o revolucionário Precision Bass ter sofrido inúmeras mudanças dramáticas no seu design desde a estreia em 1951. João Oliveira considerou um «privilégio enorme» trabalhar este baixo carregado de história: «Tanto pelo facto de estar a trabalhar no instrumento que é, como pela confiança do proprietário no nosso trabalho. É sem dúvida o baixo Fender que mais nos atrai, pela sua simplicidade, peso, conforto e sonoridade.»

Quanto à preservação do timbre, Oliveira diz-nos que «Infelizmente a electrónica já teria sido mudada durante a sua vida de transformações, pelo que a nossa preocupação resumiu-se à escolha e instalação dos componentes adequados e mais semelhantes aos originais para que, de alguma forma, ficasse o mais próximo do som original». O luthier adiantou que foi também criado «um shielding com isolamento em cobre para garantir o mínimo (ou nenhum) ruído», algo característico dos pickups single-coil da época. «Além disto, o Tele Bass vinha com um braço super empenado, fruto de um truss rod mal ajustado e tensão aplicada indevidamente. Esteve cerca de dois meses em processo de desempeno com a contração-expansão do maple até atingir a posição ideal, para que resultasse numa boa acção e um braço com saúde para mais 40 ou 50 anos de rock.»

Para quem tiver interesse em aplicar um relic no seu instrumento, João Oliveira é categórico na hora de dar conselhos: «Que o façam na nossa Clínica, pois estamos cada vez mais interessados e focados em atingir melhores resultados.» Mas o luthier não se fica por aqui: «Tecnicamente falando, um relic é muito mais do que pegar num esfregão, remover cor em pontos aleatórios e mandar um saco cheio de parafusos e chaves para cima do instrumento. É importante criar texturas, nuances e marcas o mais reais possíveis, sejam de fonte de inspiração aleatória ou absorvendo o jeito de tocar do músico em questão, para que o resultado se torne o mais autêntico possível.»

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